Pular para o conteúdo principal

Logística compartilhada: Por que não?


Artigo | Por Alexandre Azevedo


O compartilhamento de serviços ganha cada vez mais adeptos e nos últimos anos vimos aplicativos de contratação de motorista particular, hospedagem e carona se popularizarem rapidamente. A ideia é baseada no conceito de economia colaborativa em que pessoas com interesses e necessidades comuns dividem ou trocam serviços e produtos, o que é amplamente facilitado pelo uso de plataformas digitais. No Brasil, no entanto, quando falamos de logística, a realidade é diferente. As grandes empresas ainda mantêm núcleos de distribuição e infraestruturas próprias para suportar as suas operações.

E por que a indústria não divide essa conta? A resposta é basicamente cultura. Por aqui, já existem algumas iniciativas de centros de logística compartilhados, mas ainda é algo incipiente. A exemplo dos CSCs (centros de serviços compartilhados) - que levaram certo tempo para amadurecerem, mas hoje já estão bem difundidos no país – os CLCs estão percorrendo o mesmo caminho e representam uma nova fronteira para o mercado.

Estamos nos acostumando com novas formas de nos locomover na vida pessoal e o setor empresarial vem acompanhando essas tendências de perto. Muito mais do que atitude, é questão de sobrevivência. De acordo com o Instituto de Logística e Supply Chain, os custos logísticos (despesas com transporte, estoque, armazenagem e serviços de administração) consumiram 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) ou R$ 749 bilhões. Já nos Estados Unidos, a conta contabiliza 7,8% do PIB americano.

O transporte, por exemplo, consome a maior parte dessa conta (6,8% do PIB ou R$ 401 bilhões). A alta porcentagem está diretamente relacionada à malha rodoviária deficiente, encargos fiscais e combustíveis a preços exorbitantes, sem deixar de mencionar o gasto com seguro (determinadas cargas sofrem assaltos constantes). Todas essas variáveis impactam no valor final do produto e comprometem a competitividade da indústria nacional.

A sociedade depende da entrega desses produtos, uma vez que as fábricas migraram dos grandes centros para locais mais afastados. Porém, a conta fica mais cara no supermercado porque boa parte dos gastos com logística é embutida no preço final da mercadoria. Outro ponto importante é que a empresas, com o cenário econômico instável, passaram a racionar ao máximo as suas estruturas de armazenamento e transporte. Quanto mais centros, mais custos com infraestrutura e mão de obra. Tudo isso transforma a operação logística em uma atividade crítica.

Incontáveis vezes, vemos caminhões vindos de outros estados que, após descarregarem, voltam para as cidades de origem vazios. Por que não aproveitar essa viagem e voltar com uma carga diferente? O conceito de compartilhamento aplicado no setor é focado na otimização dos recursos. Uma empresa tem uma frota de veículos moderna, mas o armazém precisa de reparos, enquanto na outra organização a situação é inversa. Por que não combinar o melhor das duas? A ideia é fazer com que ativos reduzam de maneira inteligente a conta frente para ambas as companhias.

Um exemplo de sucesso são duas empresas brasileiras do ramo editorial que uniram as suas estruturas para a entrega de jornais. Quem mora em um condomínio já deve ter percebido que muitos dos seus vizinhos leem jornais de marcas diferentes. Esses dois grandes jornais também perceberam isso e esqueceram as diferenças em troca de uma melhor eficiência operacional para ambas as empresas e, a partir disso, o mesmo caminhão leva exemplares das duas publicações. Em determinados casos, é muito simples fazer essa combinação. O caminhão que trouxe um carregamento de papel higiênico pode voltar abastecido de produtos de limpeza, por exemplo.

Com o apoio da tecnologia é possível fazer a gestão inteligente, com previsão um plano de cargas pelo menor custo de fretes ou a melhor margem financeira para a operação. O mercado de TI oferece plataformas que consolidam em painéis todas as atividades, incluindo o planejamento da organização da carga dentro do veículo – o que vai ser descarregado primeiro, fica mais próximo da porta – e combinações de rotas para formar circuitos ou sequências colaborativas de carregamentos.

Os sistemas indicam também as melhores possibilidades de carregamento das entregas, considerando o valor das mercadorias permitidas pela seguradora, a restrição de capacidade física do veículo e a limitação de empilhamento de acordo com a fragilidade dos produtos. Além disso, é possível evitar combinar objetos que, por regras sanitárias, não podem estar no mesmo ambiente.

A alimentação diária dessas soluções gera indicadores que podem ser analisados a qualquer momento, possibilitando identificar oportunidades de sinergia entre rotas, inclusive, enquanto estão em andamento e, se necessário, alterar para ter um desempenho melhor. Essas funcionalidades aliadas à atuação em conjunto otimizam recursos e diminuem o impacto que a logística causa no orçamento. Também têm efeito positivo lá na ponta, impactando no valor pago pelo consumidor final.

O principal desafio é quebrar a cultura de olhar para o mercado e ver apenas concorrentes, quando muitas empresas podem ser aliadas e cooperar com a sua operação. No âmbito tecnológico, é essencial ter um parceiro capaz de fazer, de maneira segura, a integração de softwares distintos para assegurar que não existam conflitos de entregas e cargas. A TI deve ser o catalizador dessa otimização, fazendo a equação da melhor logística, menor custo e menor tempo.

Alexandre Azevedo é diretor da Unidade Private da TOTVS


Fonte:http://www.revistamundologistica.com.br/portal/noticia.jsp?id=3243

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nova solução da DHL eCommerce poderá impulsionar comércio eletrônico no Chile

A DHL Supply Chain, empresa líder mundial em distribuição e armazenagem, lança no Brasil seu primeiro Centro Multicliente de Packaging (embalamento secundário). Também conhecido como copacker, o embalamento secundário consiste na produção de uma embalagem suplementar de um produto, conjunto de produtos, com ou sem brindes, para fins promocionais ou de comunicação de forma geral. O Centro, o primeiro da DHL no Brasil com capacidade de atender vários clientes de diferentes mercados, irá desenvolver kits, fazer a prototipagem, gerenciar os itens envolvidos, montar, acondicionar em caixas e pallets para armazenagem e distribuição. Linhas de produção Inicialmente, são 7 linhas de produção com a capacidade de montar até 3 milhões de kits por mês, com flexibilidade para expansão no curto prazo. O Centro Multicliente de Packaging está localizado em Guarulhos, próximo ao Aeroporto Internacional, com uma área dedicada de 3,8 mil m², infraestrutura completa e capacidade de até 2,5 mil

41 concursos públicos pagam salários de até R$ 28,9 mil

São Paulo - Para quem quer seguir carreira pública, veja os concursos públicos com inscrições abertas. As oportunidades profissionais estão espalhadas por todas as regiões do país. Exército Há 67 vagas para o curso de formação de oficiais do quadro complementar e para o estágio de instrução e adaptação para o ingresso no quadro de capelães militares. Todas as oportunidades exigem nível superior. Para os curso de formação de oficiais há vagas para as áreas de administração, assistência social, ciências contábeis, direito, enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, informática, nutrição, psicologia, terapia ocupacional e veterinária. Nesses casos, é preciso ter formação na área correspondente, ter no máximo 36 anos até 31 de dezembro do ano da matrícula e altura mínima de 1,60 m para homens e de 1,55 m para mulheres. Para as vagas de capelães militares, há 3 oportunidades para sacerdote católico e uma para pastos evangélico. Podem participar da seleção, candidatos com idades entre

Qual a melhor opção para as transportadoras: lucro presumido ou simples nacional

TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA TRIBUTAÇÃO LUCRO PRESUMIDO X SIMPLES NACIONAL O segmento do transporte rodoviário de carga esteve sempre numa condição diferenciada no que se refere a tributação e, o maior exemplo disto é a tributação pelo Lucro Presumido. Beneficiada com a mesma apuração do Lucro previsto para a indústria e o comércio quando estas são tributadas sobre 8% do seu faturamento, ao contrário do transporte rodoviário de passageiros que tem alíquota de 16%. Quanto à tributação pelo SIMPLES NACIONAL sempre foi discutível se seria vantajoso ou não optar por esta condição considerando que a Tabela III a qual está inserida não apresenta muitos benefícios pelas faixas de tributação. Com o advento da desoneração da folha (01/2014) praticamente a opção do SIMPLES NACIONAL se tornou inviável pois, somando todos impostos e contribuições do Lucro Presumido a tributação por este sistema é efetivamente mais favorável ao transportador. Lembramos que exis