O compartilhamento de serviços ganha cada vez mais adeptos e nos últimos anos vimos aplicativos de contratação de motorista particular, hospedagem e carona se popularizarem rapidamente. A ideia é baseada no conceito de economia colaborativa em que pessoas com interesses e necessidades comuns dividem ou trocam serviços e produtos, o que é amplamente facilitado pelo uso de plataformas digitais. No Brasil, no entanto, quando falamos de logística, a realidade é diferente. As grandes empresas ainda mantêm núcleos de distribuição e infraestruturas próprias para suportar as suas operações.
E por que a indústria não divide essa conta? A resposta é basicamente cultura. Por aqui, já existem algumas iniciativas de centros de logística compartilhados, mas ainda é algo incipiente. A exemplo dos CSCs (centros de serviços compartilhados) - que levaram certo tempo para amadurecerem, mas hoje já estão bem difundidos no país – os CLCs estão percorrendo o mesmo caminho e representam uma nova fronteira para o mercado.
Estamos nos acostumando com novas formas de nos locomover na vida pessoal e o setor empresarial vem acompanhando essas tendências de perto. Muito mais do que atitude, é questão de sobrevivência. De acordo com o Instituto de Logística e Supply Chain, os custos logísticos (despesas com transporte, estoque, armazenagem e serviços de administração) consumiram 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) ou R$ 749 bilhões. Já nos Estados Unidos, a conta contabiliza 7,8% do PIB americano.
O transporte, por exemplo, consome a maior parte dessa conta (6,8% do PIB ou R$ 401 bilhões). A alta porcentagem está diretamente relacionada à malha rodoviária deficiente, encargos fiscais e combustíveis a preços exorbitantes, sem deixar de mencionar o gasto com seguro (determinadas cargas sofrem assaltos constantes). Todas essas variáveis impactam no valor final do produto e comprometem a competitividade da indústria nacional.
A sociedade depende da entrega desses produtos, uma vez que as fábricas migraram dos grandes centros para locais mais afastados. Porém, a conta fica mais cara no supermercado porque boa parte dos gastos com logística é embutida no preço final da mercadoria. Outro ponto importante é que a empresas, com o cenário econômico instável, passaram a racionar ao máximo as suas estruturas de armazenamento e transporte. Quanto mais centros, mais custos com infraestrutura e mão de obra. Tudo isso transforma a operação logística em uma atividade crítica.
Incontáveis vezes, vemos caminhões vindos de outros estados que, após descarregarem, voltam para as cidades de origem vazios. Por que não aproveitar essa viagem e voltar com uma carga diferente? O conceito de compartilhamento aplicado no setor é focado na otimização dos recursos. Uma empresa tem uma frota de veículos moderna, mas o armazém precisa de reparos, enquanto na outra organização a situação é inversa. Por que não combinar o melhor das duas? A ideia é fazer com que ativos reduzam de maneira inteligente a conta frente para ambas as companhias.
Um exemplo de sucesso são duas empresas brasileiras do ramo editorial que uniram as suas estruturas para a entrega de jornais. Quem mora em um condomínio já deve ter percebido que muitos dos seus vizinhos leem jornais de marcas diferentes. Esses dois grandes jornais também perceberam isso e esqueceram as diferenças em troca de uma melhor eficiência operacional para ambas as empresas e, a partir disso, o mesmo caminhão leva exemplares das duas publicações. Em determinados casos, é muito simples fazer essa combinação. O caminhão que trouxe um carregamento de papel higiênico pode voltar abastecido de produtos de limpeza, por exemplo.
Com o apoio da tecnologia é possível fazer a gestão inteligente, com previsão um plano de cargas pelo menor custo de fretes ou a melhor margem financeira para a operação. O mercado de TI oferece plataformas que consolidam em painéis todas as atividades, incluindo o planejamento da organização da carga dentro do veículo – o que vai ser descarregado primeiro, fica mais próximo da porta – e combinações de rotas para formar circuitos ou sequências colaborativas de carregamentos.
Os sistemas indicam também as melhores possibilidades de carregamento das entregas, considerando o valor das mercadorias permitidas pela seguradora, a restrição de capacidade física do veículo e a limitação de empilhamento de acordo com a fragilidade dos produtos. Além disso, é possível evitar combinar objetos que, por regras sanitárias, não podem estar no mesmo ambiente.
A alimentação diária dessas soluções gera indicadores que podem ser analisados a qualquer momento, possibilitando identificar oportunidades de sinergia entre rotas, inclusive, enquanto estão em andamento e, se necessário, alterar para ter um desempenho melhor. Essas funcionalidades aliadas à atuação em conjunto otimizam recursos e diminuem o impacto que a logística causa no orçamento. Também têm efeito positivo lá na ponta, impactando no valor pago pelo consumidor final.
O principal desafio é quebrar a cultura de olhar para o mercado e ver apenas concorrentes, quando muitas empresas podem ser aliadas e cooperar com a sua operação. No âmbito tecnológico, é essencial ter um parceiro capaz de fazer, de maneira segura, a integração de softwares distintos para assegurar que não existam conflitos de entregas e cargas. A TI deve ser o catalizador dessa otimização, fazendo a equação da melhor logística, menor custo e menor tempo.
Alexandre Azevedo é diretor da Unidade Private da TOTVS
Fonte:http://www.revistamundologistica.com.br/portal/noticia.jsp?id=3243
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