O fim de uma crise pode trazer falsas sensações para empresas cujas
contas estão em desequilíbrio. Aquela coisa do “passou!” ou aquela do
“agora vamos que vamos!” não acontecerá se não houve um bom
planejamento, controle e o ganho de muito conhecimento nesse período.
São muitas as empresas que fecham as portas durante uma crise por falta
de “jogo de cintura”, mas também são muitas as que fecham após as
turbulências, pois o mercado recupera seu ritmo bem mais rápido do que
aquelas que não se prepararam para a retomada da economia.
Não deixa de ser algo muito natural no Ciclo da Economia, porém, é
algo evitável ser surpreendido pela velocidade de seu mercado de
atuação. A maior causa está em se focar no problema e não nas soluções.
Temos um hábito mortal de olhar só para o problema e de lhe fornecer
energias para que ele se agigante. Não deixa de ser um caminho
necessário pensar em como superar uma crise, mas não se pode dispensar
muito tempo nessa fase, pois o mais importante é como sua empresa estará
ao final dela. Isso é de grande valia para novas ideias, novos modelos
para o mercado e até para evitar grandes prejuízos.
Semana passada, pedi o que talvez possa ser minha última pizza num estabelecimento perto de onde moro. A qualidade
caiu assustadoramente, embora o preço tenha se mantido. Em conversa com
o proprietário, exercendo meu direito de consumidor ao reclamar da
qualidade, vieram todas as palavras ligadas ao período difícil:
matéria-prima mais cara, redução de custos, demissões, contas atrasadas…
Opa! Tudo errado! Essas palavras fazem parte apenas daquela primeira
parte citada: superar a crise. E quanto à parte principal de como
estarei ao final da crise? Isso está diretamente ligada às outras
perguntas para as quais se tem que saber as respostas de bate-pronto,
como: aonde foram meus clientes? Quantos funcionários deverei contratar?
Quanto devo pagá-los? Em quanto tempo conquistarei a qualidade plena?
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Imagine-se de mãos atadas para trás enquanto vê o leite fervendo e
subindo, subindo… Assim é sua empresa ao final de uma crise: seus
clientes lhe abandonaram porque você abandonou sua qualidade e o bom
serviço, seus melhores funcionários lhe abandonaram porque você não
formou uma relação de parceria, e isso inclui bom relacionamento,
pagamentos justos, reciclagens… E, para piorar, a mão-de-obra ficou
escassa de uma hora para outra e agora você deverá pagar um salário mais
alto do que seus antigos funcionários e qualificá-los sem nenhuma
garantia de que não esteja perdendo tempo e ainda mais qualidade nos
processos. E, com o leite prestes a derramar, ou você tem coragem para
se virar e correr o risco de queimar as mãos ou ainda, antes do leite
ferver, conseguir desatar suas mãos. Esta última e melhor opção é
sinônimo de planejamento.
O problema é que a grande maioria pensa em soprar forte e apagar o
fogo, sem se preocupar com os efeitos do gás que pode matar lentamente
ou colocar tudo pelos ares em pouquíssimo tempo.
Voltando ao exemplo da pizzaria, vamos imaginar que, com a perda de
qualidade, de cada 100 clientes, pelo menos 50 procurarão os
concorrentes de imediato; com a redução dos custos e uma leve diminuição
no preço final, mais 20 novos clientes surgirão fugindo de preços altos
dos concorrentes. E se nesse momento a solução fosse a manutenção da
qualidade? Ousar ainda é a melhor receita para gerar receita. E, mesmo
com lucro zero, a pizzaria estará no mesmo eixo da qualidade, mantendo
grande parte de seus clientes com o know-how para resgatar ou conquistar
outros após essa fase de substitutibilidade. Caso opte mesmo em reduzir
a qualidade, ao retomá-la, seus custos retornarão maiores que os
anteriores, com o tempo contando, daqueles 50 clientes, 40 também a
abandonará mais tarde e, com uma estrutura inchada, ela passará a ter
aqueles 20 – os dos preços baixos e fieis só até acharem um preço menor –
e mais uns 10 como base. Das duas uma: ou fecha ou se torna medíocre.
É muito importante saber que você precisou de dinheiro para construir
sua marca e hoje é ela que lhe fornece o dinheiro, e este não paga
qualquer dano a que ela seja submetida.
É mesmo um grande erro as empresas acharem que para a saída de uma
crise a qualidade tenha que ser afetada. Isso está muito ligado à
ganância ou ao desespero e não ao modelo de mercado ideal. Pensando
pequeno, opta-se sempre em entregar o tesouro à concorrência ousada.
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