Os empresários e executivos brasileiros
estão um pouco mais esperançosos com o país hoje do que há três meses.
Não é uma mudança da água para o vinho, mas já dá para notar alguma
melhora de humor. O ânimo aumenta à medida que o olhar se volta mais
para o futuro.
Otimismo mesmo, só com o que pode vir lá por 2020 — o que significa que o
país continua a merecer confiança, mas os dirigentes empresariais
esperam uma boa caminhada até o Brasil deixar para trás esta etapa
encrencada de sua história. Essa é, em resumo, a leitura que se pode
fazer dos resultados de uma sondagem feita pela consultoria Betania
Tanure Associados para MELHORES E MAIORES.
Foram ouvidos cerca de 600 executivos em março e, novamente, em junho.
Entre uma pesquisa e outra, houve um fato que explica o começo de
mudança de visão no meio corporativo: o afastamento temporário da
presidente Dilma Rousseff, aprovado pelo Senado em 12 de maio.
Vamos a alguns números. Em março, 74% dos dirigentes de empresas se
diziam pessimistas ou muito pessimistas com os rumos do Brasil em 2016.
Em junho, esse índice caiu para 69% — ou seja, a maioria continua a dar o
ano como perdido. A proporção dos otimistas com 2016 subiu de 9% para
11%, enquanto a dos que se mantêm neutros passou de 17% para 20%.
Porém, quando indagados sobre os próximos dois anos, a fatia dos
otimistas ou muito otimistas com o Brasil cresceu de 32% para 38% entre
as duas pesquisas. Quando a referência é o cenário daqui a quatro anos, a
parcela dos que veem o país com bons olhos subiu de 67% para 76%. O
presidente interino Michel Temer recebeu avaliação positiva na pesquisa.
Seus traços mais ressaltados pelos entrevistados são a capacidade de
diálogo (algo que, como se sabe, nunca foi o ponto forte de sua
antecessora no cargo), a habilidade de articulação política (idem) e a
formação de uma equipe de qualidade na área econômica.
Aqui os entrevistados estão se referindo especialmente ao novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e a nomes como Ilan Goldfajn (Banco Central) e Maria Silvia Bastos Marques (BNDES).
“Desde Fernando Henrique Cardoso não temos uma equipe econômica tão
alinhada como a de Meirelles, e isso cria um clima favorável”, diz Pedro
Wongtschowski, conselheiro do Grupo Ultra e presidente do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
O voto de confiança pode fazer toda a diferença para Meirelles em
comparação com o antecessor, Joaquim Levy, que também era um nome
respeitado pelo empresariado, mas parecia um estranho no ninho no
governo Dilma.
Em poucas semanas desde que assumiu o cargo, Meirelles não só conquistou
o apoio para avançar no inadiável ajuste fiscal como também já desponta
como um nome forte para as próximas eleições presidenciais.
Na pesquisa, Meirelles foi citado como o candidato a presidente
preferido por 26% dos entrevistados, à frente do ministro das Relações
Exteriores, José Serra (20%), e do governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (17%). Temer, que declarou não ter intenção de disputar a
eleição presidencial em 2018, recebeu menos de 1% dos votos dos
executivos, o mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A estratégia de Temer e de Meirelles de expor o tamanho do déficit público é elogiada.
“Responsabilidade fiscal, contas públicas organizadas e previsíveis,
ações consistentes para controlar a inflação e a lei de teto para o
gasto do governo sinalizam que haverá, no médio e no longo prazo, um
padrão mais adequado na condução da economia”, diz Dan Ioschpe,
presidente do conselho de administração do grupo Maxion e presidente do
Sindipeças, sindicato nacional dos fabricantes de autopeças.
A trégua que o setor produtivo está dando ao presidente interino é
condicionada ao enfrentamento de algumas questões centrais, como o
combate à corrupção,
a reforma política, a redução da carga tributária e o equacionamento da
dívida pública. O diagnóstico dos executivos é que os próximos anos
deverão ser aproveitados para estabilizar a economia sem fugir dos
remédios amargos.
Diante do déficit de 170 bilhões de reais nas contas públicas deste ano,
a saída para estancar a crise econômica passa por reduzir o tamanho do
governo ou pelo aumento de tributos, opção que causa arrepios à maioria.
No plano ideal, o meio empresarial torce para que o governo reabra as
concessões e reveja os sistemas regulatórios, criando novos estímulos
para os setores de petróleo, gás, energia elétrica e infraestrutura. Com
um cenário de negócios mais previsível, outros segmentos, menos
regulados, diminuiriam a capacidade ociosa voltando a linha de produção
para as exportações.
Em 2015, embora o país tenha registrado superávit na balança comercial, a
exportação caiu 15% em relação ao ano anterior. O levantamento de
MELHORES E MAIORES evidencia que os dirigentes de empresas atribuem as
perdas de receita e de lucratividade principalmente a questões que estão
fora de sua alçada.
A conjuntura econômica, a crise política, o mercado retraído e a baixa
demanda têm peso maior do que fatores internos das companhias, como
gestão de equipes e de eficiência. De acordo com Betania Tanure, a
maioria dos gestores avalia que suas empresas estão tendo em 2016 um
desempenho abaixo do esperado, porém satisfatório diante da crise
econômica.
O problema é que a maioria prefere culpar a turbulência externa a tentar
melhorar os processos internos. “O presidente de uma empresa não pode
reclamar só das causas externas e não fazer o dever de casa”, afirma
Betania. Nos últimos seis meses, as empresas ouvidas no levantamento
adotaram medidas convencionais para reduzir os efeitos da recessão.
Um quarto das companhias fez demissões e um quinto adiou investimentos.
Outros 16% fecharam unidades produtivas. “As empresas sabem que, para
crescer no médio e no longo prazo, precisam inovar, mas há uma questão
de sobrevivência imediata”, diz Wongtschowski, do Ultra.
Para ele, inovação
é algo que só vai ocorrer de fato quando o país retomar a perspectiva
de crescimento, o que ainda está longe do radar dos empresários —
infelizmente.
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