A empresa está endividada. O que fazer?
Escrito por Ricardo Mollo, especialista em empreendedorismo
Escrito por Ricardo Mollo, especialista em empreendedorismo
Nem sempre o endividamento é ruim. Tem que estar alinhado com a estratégia de crescimento da companhia e com sua capacidade de pagamento. Muitas empresas convivem com endividamento por muito tempo e conseguem crescer e criar valor. Porém, é necessário disciplina de controle e planejamento para que as dívidas não passem do suportável pela geração de caixa da empresa.
A dívida financeira pode trazer o benefício de potencializar o retorno da companhia, mas também aumenta os riscos. O endividamento bom é aquele com taxas e prazos adequados, que permitem à companhia planejar o seu pagamento e não depender de refinanciamento.
O importante é que a dívida tomada seja utilizada para um fim que gere retorno acima do custo da dívida. Parece óbvio, mas num país como o Brasil, com taxas altíssimas, nem sempre o empresário consegue aferir se a dívida trouxe retorno ou tomou grande parte ou todo o resultado.
Inicialmente é importante responder às seguintes perguntas:
- Por que se endividar? Geralmente para dar suporte ao crescimento, uma necessidade de capital de giro, investimento ou compra de companhia. O problema é quando tomamos dívidas para financiar perdas passadas, para refinanciar dívidas mais caras, para cobrir furos de caixa, ou mesmo quando perdemos o controle do endividamento.
- Qual o limite do endividamento? Quanto da geração de caixa da companhia posso comprometer com o pagamento das dívidas? É importante ressaltar que o que paga uma dívida não é outra dívida, mas sim o lucro, uma capitalização ou a venda de ativos.
- Como saber se o endividamento está alto? Projetar o fluxo de caixa futuro da empresa e ver como a dívida pode ser paga com a geração de caixa da empresa. Se não conseguir, é necessária uma capitalização.
- Como perceber quando se está muito endividado? Há sinais de deterioração da companhia e da qualidade do crédito tomado. Exemplo: fornecedores começam a pedir pagamentos a vista, bancos não refinanciam ou aumentam o limite de crédito, protestos, furos de caixa constantes e falta de liquidez.
Empresas precisam tomar cuidado com quanto dinheiro é retirado do seu caixa para remunerar acionistas. Em empresas pequenas e médias é muito comum o intercâmbio entre a conta do acionista e da companhia. Cuidado para que os recursos que vão para os acionistas não fiquem imobilizados demais, pois, se a empresa precisar, o acionista terá que socorrê-la.
A melhor forma de não ficar endividado demais é fazer planejamento financeiro, guardar reservas em caixa, manter bons relacionamentos bancários, manter sua ficha limpa de inadimplência, evitar atrasos nos pagamentos, ser conservador nos investimentos, controlar as dívidas, fugir das dívidas caras como o cheque empresarial etc.
Mas o que fazer quando se está endividado demais? Veja 23 dicas:
1 - Vender ativos da empresa ou do acionista para capitalização;
2 - Reduzir o estoque, aumentar a eficiência de produção e estocagem e, se possível, fazer just in time;
3 - Calcular a necessidade de capital de giro e somente trabalhar com capital de giro próprio ou com ajuda de fornecedores;
4 - Pedir mais prazo para pagamento a fornecedores;
5 - Pedir adiantamento de clientes;
6 - Reduzir o capital de giro com diminuição do prazo de recebimento e estocagem;
7 - Cobrar clientes atrasados, diminuir inadimplência
8 - Buscar recursos de longo prazo
9 - Aumentar o número de bancos de relacionamento para melhorar a negociação de condições dos financiamentos e não correr risco de não te recursos nas datas de pagamento
10 - Renegociar dívidas com parcelamento de pagamento de acordo com a projeção de fluxo de caixa
11 - Otimizar a utilização de caixa do grupo e do acionista;
12 - Economizar, reduzir custos e despesas para sobrar mais para pagar dívidas;
13 - Oferecer garantias para renovação de financiamentos com melhor custo e prazo mais longo;
14 - Tomar cuidado com variação cambial, indexadores, descasamentos etc. Use hedges se possível.
15 - Vender participação acionária para investidores;
16 – Capitalizar a empresa com recursos de acionistas;
17 - Em situação crítica, atraso seletivo de pagamentos com cuidado para não perder crédito ou ter negativação. Atraso seletivo e parcelamento de impostos;
18 - Evitar ao máximo atrasar pagamento de folha de pagamento e nunca atrasar impostos como INSS retido de funcionários;
19 - Evitar factorings e agiotas, pois as taxas costumam ser altas, apesar de algumas vezes serem mais baratas que o cheque empresarial;
20 - Iniciar um turnaround na companhia entendendo o que causou a dívida: descontrole, altas taxas, ineficiências, maus negócios, baixa rentabilidade, baixa competitividade etc. Tratar as causas é muito importante, senão a dívida continua crescendo;
21 – Considerar a recuperação judicial como opção, caso a situação se agrave. Porém, tente entrar com este recurso com a companhia ainda viva e com algum caixa extra para passar por esta fase dura de recuperação;
22 - Não se iludir com o volume de vendas e focar em geração de caixa e rentabilidade;
23 - Vender a companhia para um concorrente pode ser uma solução dolorosa, porém, às vezes é a única.
Lembre-se: O que paga dívida é geração de caixa e capitalização e não o refinanciamento via outra dívida.
Ricardo Mollo é professor dos cursos de Certificates do Insper.
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